Usinas sucroenergéticas poderão tornar parte da frota autossuficiente em combustível
Autossustentáveis em energia elétrica por meio do aproveitamento do bagaço de cana, empresas do setor sucroenergético enxergam no horizonte a possibilidade de também se tornarem menos dependentes do óleo diesel nas operações de campo. E isso pode se tornar realidade com a produção de biometano, biocombustivel obtido da geração e purificação do biogás resultante da biodigestão da vinhaça e de outros subprodutos da cana, e que poderá substituir o uso do concorrente fóssil em parte do maquinário agrícola das usinas.
Para o consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc, a independência do produtor em relação ao derivado do petróleo, com redução significativa do custo de produção e menor emissão de poluentes, é um fator que joga cada vez mais a favor do novo biocombustível no Brasil.
“Apesar de conhecer o processo de conversão da vinhaça em biometano, o segmento canavieiro passou a considerar essa alternativa energética com mais interesse somente há poucos anos, inicialmente como complemento energético para os processos industriais. Atualmente, vislumbra a possibilidade de que se viabilize o seu uso como “carburante em máquinas agrícolas e veículos pesados com motor diesel”, explica o executivo. Afinal, acescenta Alfred, nos últimos tempos o assunto vem merecendo cada vez mais a atenção da indústria automotiva, principalmente após o anúncio, por parte do governo federal, de medidas que visam garantir a expansão das energias renováveis na matriz energética País, em especial no segmento de transportes.
“Muito se deve à regulamentação divulgada em 2015 pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) autorizando o uso de biometano em modelos nacionais, e ao lançamento, no final de 2016, do programa RenovaBio, criado para incentivar a produção de biocombustíveis. Pode-se, em consequência, mitigar emissões domésticas de gases de efeito estufa até 2030, conforme o compromisso assumido pelo Brasil no Acordo de Paris”, explica o executivo.
Veículos
Em relação ao desenvolvimento de novas tecnologias que permitam a utilização em larga escala de biometano em veículos rurais de grande porte, o especialista da UNICA cita um projeto-piloto conduzido pela New Holland, fabricante de máquinas e implementos agrícolas do Grupo FIAT. “Desde o início de janeiro, estão sendo realizados inúmeros testes com um trator movido a biometano em uma propriedade localizada no Paraná. Embora ainda esteja em fase experimental, o protótipo apresentou resultados animadores em termos de consumo de combustível e emissão de poluentes, ou seja, mais competitividade e sustentabilidade ambiental para o agronegócio”, afirma.
O gerente de Marketing de Produto da New Holland, Nilson Righi, ressalta que a empresa é a única a dispor desta inovação tecnológica entre as multinacionais que fabricam produtos para o campo. “O trator foi testado pela primeira vez na Itália, o que, na América Latina, nunca tinha sido feito. As primeiras constatações relevam que 300 litros de metano comprimido garantem uma autonomia de cinco horas, além de uma redução de 80% na produção de CO2 e 40% de economia de combustível se comparado ao diesel. Estimamos que o modelo chegue ao mercado em três anos”, informa.
Biogás na matriz energética
A maior participação do biometano e do biogás na matriz energética nacional tem sido constantemente discutida pela UNICA e demais entidades do agro em reuniões com autoridades do Ministério de Minas e Energia (MME) e da Secretaria de Energia e Mineração do Estado de São Paulo. Presente nestas discussões, o gerente em Bioeletricidade da UNICA, Zilmar Souza, salienta a importância dos dois produtos para o cumprimento de algumas metas de desenvolvimento sustentável estabelecidas pelo Brasil.
“Trata-se de renováveis de grande relevância e estratégicos para o cumprimento das metas assumidas. O biometano ajudará o País a atingir a participação de 18% de biocombustíveis na matriz energética até 2030, e o biogás para se aumentar de 10% para 23% a presença das fontes biomassa, solar e eólica na geração de eletricidade. Neste sentido, estamos em constante diálogo com o governo, buscando o desenho de uma política setorial adequada”, observa Zilmar.
De acordo com o consultor Ambiental e de Recursos Hídricos da UNICA, André Elia Neto, a abundância de vinhaça no setor sucroenergético pode ser um diferencial para o crescimento da oferta de biogás e biometano no País.
“Temos vastas quantidades de vinhaça produzidas diariamente pelas usinas, que além de usarem este subproduto como fertilizante natural nos canaviais, podem transformá-lo em eletricidade e/ou num combustível renovável com a mesma especificação físico-química do gás natural fóssil, e com a vantagem de ser ambientalmente correto”, enfatiza.
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